segunda-feira, 31 de maio de 2010

UM BALDE DE GELO EM MINHA DUCHA

                                                     
              Exatamente no décimo segundo dia de um proveitoso mas exaustivo exercício das práticas para o controle da qualidade do diagnóstico Laboratorial de Leishmaniose Tegumentar Americana nos municípios de nossa Regional de Saúde, eis que nos aparece um paciente de massa corporal igual a exatos 98 KGs. Com uma prescrição médica de um tratamento terapêutico de primeira escolha com Glucantime para 20 dias (uma ampola de 5 mls a cada 24 horas).Refaçamos os cálculos para este profissional de saúde: Como é prescrito pelo MS, para uma LTA cutânea de lesão única pode-se estabelecer uma média aritmética entre o limite máximo e mínimo ( 10 mg e 20 mg por cada kg de massa corpórea, logo 10+20=30 e 30/2 = 15) que resulta em 15mg por cada kg do referido paciente, sem que se ultrapasse o limite de 04 ampolas, pois 15x98= 1470mg, e 1470/81 = 18,148...... o que corresponde a 03 ampolas e 3,148 mls arredondando para baixo resulta em 03 ampolas e 03 mls( 3, 6 ampolas ), isso multiplicado por 20 dias ( 20x 3,6= 72 ).. Uuuuuuh !!!!!!!!! que diferença...!!!!! agora calcule os prejuízos dessa subdosagem.....só que isso não passou em nossa vigilância epidemiológica pois levamos a um outro médico que gerou nova prescrição, aqui neste caso a soberania é relativa.
Observações: Uma ampola contem 5 mls
Uma ampola contem 405 mgs do antimoniato
Cada ml contem 81mgs do antimoniato

domingo, 30 de maio de 2010

Curso para diag. lab. LTA 17 a 29 de maio de 2010



      Mais um evento de grande porte contemplou os profissionais de laboratório de  nossa Regional de saúde
com certificação pela DBM/LACEN-PA e ministrado pelo técnico desta patologia o Sr. Luiz Vieira da Costa com suporte desta Regional de Saúde. Curso de LTA com carga horária de 48 horas efetivas realizado na sede deste laboratório localizado na Rod. Transamazônica (BR 230 pátio do DNIT) Km 0 bairro amapá no período de 17 a 29 de maio do ano de 2010 distribuidos em duas turmas. Foram notificados e convocados  todos os 21 Municípios que compõem este CRS com as seguintes ocorrências:

Abel Figueredo:    Bioquímica  ALESSANDRA S. SILVA
Bom Jesus do Tocantins:    Bioquímico ESTEVÃO DE PAULA PEREIRA
Brejo Grande do Araguaia:    Técnico  AMARO BENEDITO DE GOUVEIA NETO
Breu Branco:      Técnicos  ALCIMAR DOS SANTOS SILVA e LOURIVAL MARQUES ROLAND  JÚNIOR 
Canaã dos Carajás:   Bioquímico JOSÉ WILKER BRAGA
Curionópolis:     Técnico  LUIZ MARCELO MONTEIRO ASSUNÇÃO
Eldorado dos Carajás:     Técnico  EDINALDO MORAIS DA SILVA
Goianézia do Pará:       Técnica  EDNA RIBEIRO DE LIMA
Itupiranga:     Não respondeu a nosso chamado
Jacundá:      Não respondeu a nosso chamado
Marabá:      Bioquímicos  ALINE VASCONCELOS, VANESSA ROCHA DA COSTA, CRISTIANE CHAVES MOUSSALEM, FLÁVIO CARDOSO PINTO, ROSILVAN DA SILVA SARGES, CRISTIANO PASSAMANI TOSO e ANTONIO CARLOS MACHADO
Nova Ipixuna:      Bioquímico  JANRUBINSTEIN CAJU MARQUES e a técnica DALVA RODRIGUES DE OLIVEIRA
Novo Repartimento: Técnicos  ANTONIO WILSON SILVA SOUSA e  ´VERA LÚCIA DE SOUSA  SILVA
Palestina do Pará:   Tecnica  IRACEMA MARIA NUNES
Parauapebas:    Técnico  EROCILDO LIMA MONTEIRO
Piçarra:          Não respondeu a nosso chamado
Rondon do Pará:   Não respondeu a nosso chamado
São Domingos do Araguaia: Bioquímico  PAULO GERALDO DE SOUSA
São Geraldo do Araguaia:    Bioquímica CARLA ADRIANA BARROS
São João do Araguaia:         Bioquímica  CRISTIENE A. DE TOLEDO NOCETTI
Tucuruí :       Bioquímicos  WAGNER BASTOS COSTA e EDUARDO JORGE DE SOUSA
Fechando mais uma turma, fiz uma relação de todos os companheiros que já estiveram conosco desde o início de nossa luta:
1. ADEVAILMA PEREIRA DA SILVA ELDORADO DOS CARAJÁS

2. ALCIMAR DOS S. SILVA BREU BRANCO TÉC. MICROSCOPISTA
3. ALESSANDRA DE SOUSA E SILVA BIOQUÍMICA ABEL FIGUEREDO
4. ALINE VASCONCELLOS MARABÁ
5. AMARO BENEDITO G. NETO ( BREJO GRANDE DO ARAGUAIA)
6. ANGÉLICA DE JESUS NUNES DA SILVA (MARABÁ)
7. ANTONIO CARLOS MACHADO DE SOUSA (MARABÁ)
8. ANTÔNIO ERIVALDO ALVES LIMA CURIONÓPOLIS
9. ANTONIO WILSON SILVA SOUSA (N. REPARTIMENTO)
10. BELCHIOR CONCEIÇÃO DA SILVA JÚNIOR (ITUPIRANGA)
11. CARLA ADRIANA BARROS ( SÃO GERALDO DO ARAGUAIA )
12. CILENE VIEIRA DA SILVA CURIONÓPOLIS
13. CLÉIA TEREZINHA DE MOURA DIAS (MARABÁ)
14. CREUZA GIL DE SOUSA JACUNDÁ
15. CRISTIANE CHAVES MUSSALEM MARABÁ
16. CRISTIENE A. DE TOLEDO NOCETTI SÃO JOÃO DO ARAGUAIA
17. CRISTIANO PASSAMANI TOSO MARABÁ
18. DANIEL RODRIGUES LEITE GOIANÉZIA
19. DALVA R. DE OLIVEIRA NOVA IPIXUNA TÉC. LABORATÓRIO
20. DEUZIMAR RODRIGUES DE MELO (11ª CRS)
21. EDILMA ALMEIDA LIMA BREJO GRANDE
22. EDILSON SOARES DA SILVA (11ª CRPS)
23. EDIVALDO MORAIS DA SILVA LAB. VIGISUS TÉC. LABORATÓRIO
24. EDNA RIBEIRO DE LIMA GOIANÉSIA TÉC. MICROSCOPISTA
25. EDUARDO JORGE DE SOUSA TUCURUÍ
26. EDVALDO LIMA DOS SANTOS PALESTINA AG. DE SAÚDE
27. EDVALDO RODRIGUES DE BRITO SÃO JOÃO DO ARAGUAIA
28. ÉRIKO ROUSMANY FERREIRA COÊLHO ( CANAÃ)
29. EROCILDO LIMA MONTEIRO PARAUAPEBAS
30. ESTEVAO DE PAULA PEREIRA ( BOM JESUS DO TOCANTINS )

31. FÁBIO FAGUNDES RIBEIRO (CANAÃ DOS CARAJÁS)
32. FLÁVIO CARDOSO PINTO.....HSM MARABÁ
33. FLORIANO TEIXEIRA RIBEIRO (11ª CRS)
34. FRANCIÉLLE LOPES SANTANA (JACUNDÁ)
35. FRANCILEIA P. DA SILVA SÃO DOMINGOS AUX. ENTOMOLOGIA
36. FRANCISCO LUCENA DO NASCIMENTO (PALESTINA DO PARÁ)
37. FRANCISCO PEREIRA GODINHO MARABÁ
38. HEYDIANE A. CÂMARA BREU BRANCO TÉC. LABORATÓRIO
39. IRACEMA MARIA NUNES...........PALESTINA DO PARÁ
40. IRAILDES GONÇALVES BIZARRIAS (GOIANÉZIA)
41. JAMES MONTEIRO DA SILVA (S. GERALDO DO ARAGUAIA)
42. JAN RUBISTEIN C. MARQUES (NOVA IPIXUANA)
43. JEANE SANTOS ARAÚJO SÃO DOMINGOS TÉC. LABORATÓRIO
44. JOSÉ CLAUDIO S. MONTEIRO LAB. O. CRUZ/TUCURÚI TÉC. LAB
45. JOSÉ RIBAMAR ALMEIDA PINTO (11ª CRS)
46. JOSÉ WILKER L. BRAGA ( CANAÃ DOS CARAJÁS )
47. LEOMAR DA CONSOLAÇÃO SOUSA PIÇARRA AG. ENDEMIAS
48. LILIAN ROSA FERRAZ PARAUAPEBAS TÉC. LABORATÓRIO
49. LOURIVAL MARQUES ROLAND JÚNIOR BREU BRANCO
50. LUIZ MARCELO MONTEIRO ASSUNÇÃO CURIONÓPOLIS
51. MARCOS ALFREDO NOGUEIRA RODRIGUES (ABEL FIGUEREDO)
52. MARIA JOSÉ LABIS DA COSTA (11ª CRS)
53. MARIA LÚCIA ARAÚJO DA SILVA TUCURÚI TÉC. LABORATÓRIO
54. MARIA RAIMUNDA B. SANTANA MARABÁ TÉC. LABORATÓRIO
55. MARLÚCIA DE FÁTIMA S. FERREIRA MARABÁ TÉC. LABORATÓRIO
56. MIGUEL ALVES DE LIMA GOIANÉSIA
57. MILSON SANTANA DE BRITO LIMA (MARABÁ)
58. OSMAR PINHEIRO NETO PARAUAPEBAS TÉC. LABORATÓRIO 59. PAULO GERALDO DE SOUZA SÃO DOMINGOS DO ARAGUAIA
60. PÉRICLES HENRIQUE COSTA PINHEIRO TUCURUÍ BIOQUÍMICO
61. RAHFELSON OLIVIERA BARBOSA GOIANÉSIA
62. RAIMUNDO RODRIGUES GOMES (11ª CRS)
63. RICARDO SILVEIRA BARROS NETO (PIÇARRA)
64. RONALDO GOMES DA SILVA ( PARAUAPEBAS )
65. ROSILVAN DE SOUZA SARGES BIOQUÍMICO MARABÁ
66. SEBASTIÃO BERTO DE M. FILHO ELDORADO DOS CARAJÁS
67. SOLIVALDO B. DA SILVA NOVA IMPIXUNA AUX. ENFERMAGEM
68. VANESSA ROCHA DA COSTA MARABÁ BIOMÉDICA
69. VERA LÚCIA DE SOUSA SILVA (NOVO REPARTIMENRO )
70. WAGNER BASTOS COSTA (TUCURUÍ)


Nosso inimiguinho


A abordagem da fisiopatologia da LTA tem como ponto central o mecanismo da relação parasito-hospedeiro que estimula a resposta imune específica. No intestino dos insetos vetores, as formas promastigotas passam por um processo denominado metaciclogênese, que é o processo pelo qual estas formas deixam de se reproduzir e tornam-se infectantes (promastigotas metacíclicas). As formas reprodutivas, não infectantes (procíclicas), prendem-se à parede do tubo digestivo do inseto vetor. Durante a metaciclogênese, as promastigotas sofrem modificações bioquímicas em sua superfície, perdendo assim sua capacidade de adesão ao epitélio do intestino médio do flebótomo. Como resultado, as promastigotas metacíclicas destacam-se, migrando para a faringe e cavidade bucal, de onde elas são transmitidas ao hospedeiro vertebrado, durante o próximo repasto sanguíneo. Após a inoculação, as promastigotas precisam sobreviver aos mecanismos inatos de defesa do hospedeiro. As mudanças bioquímicas ocorridas durante a metaciclogênese conferem às promastigotas uma resistência aumentada à lise pelo complemento. Substâncias presentes na saliva dos flebotomíneos também favorecem a infecção. Quando as promastigotas são introduzidas na pele, encontram neste local algumas células do sistema imune (linfócitos T e B, macrófagos residentes, células de Langerhans, mastócitos), que formam um compartimento bastante específico denominado sistema imune da pele. Por um mecanismo ainda não totalmente esclarecido, envolvendo receptores e ligantes em ambas superfícies, o parasito se adere à superfície dos macrófagos e células de Langerhans passando para o meio intracelular por meio de um processo de fagocitose mediada por receptores, em que se transforma na forma amastigota, característica do parasitismo nos mamíferos. Aqueles que se localizam dentro das células de Langerhans são levados aos linfonodos de drenagem, que ao se infectarem sofrem modifi cações que possibilitam sua migração. No interior das células de drenagem, as partículas antigênicas do parasito serão apresentadas às células do sistema imune. Estas, uma vez estimuladas, se dirigem ao sítio da infecção, auxiliando na formação do processo inflamatório. Nos macrófagos, os parasitos internalizados ficam dentro de um vacúolo parasitóforo (fagolisossoma), que os separa do citoplasma celular. Esta organela deriva da fusão do fagossoma, resultante da fagocitose dos  parasitos com os lisossomas, que contêm substâncias responsáveis pela destruição de microorganismos. Embora os macrófagos sejam células fagocitárias especializadas no combate a agentes infecciosos, as leishmânias desenvolverem mecanismos de defesa capazes de subverter sua capacidade microbicida, conseguindo sobreviver neste ambiente potencialmente tóxico e multiplicar-se até a ruptura da célula, quando são liberadas para infectar outros macrófagos, propagando a infecção. Este processo leva à liberação de partículas antigênicas que serão apresentadas ao sistema imune, gerando a resposta específi ca. Aquelas formas promastigotas que não forem internalizadas serão destruídas no meio extracelular pela resposta inata e as partículas antigênicas produzidas neste processo também poderão ser utilizadas pelas células apresentadoras de antígeno no processo de reconhecimento antigênico. É provavelmente neste momento que características como intensidade e qualidade da resposta imune são defi nidas, influenciando assim a evolução da doença para cura espontânea, formas autolimitadas ou formas progressivas. A localização das amastigotas no interior de macrófagos faz com que o controle da infecção seja dependente da resposta imune mediada por células. A principal célula efetora da eliminação das amastigotas é o próprio macrófago, após sua ativação por linfócitos T auxiliadores (helper). As células do sistema imune comunicam-se por meio da secreção de mediadores solúveis denominados citocinas. As citocinas produzidas por linfócitos recebem o nome de linfocinas. Linfócitos T ativam macrófagos, tornando-os capazes de destruir amastigotas, por meio da secreção da linfocina denominada interferon-gama (IFN-γ). Os mecanismos de eliminação das amastigotas pelos macrófagos ativados envolvem a síntese de intermediários tóxicos de oxigênio e nitrogênio, como o óxido nítrico. Na fi siopatogenia das leishmanioses, os macrófagos são ao mesmo tempo células hospedeiras, apresentadoras de antígeno para o sistema imune e efetoras para a destruição do parasito. As células T “helper” CD4+ têm uma função central no sistema imune, promovendo respos tas adaptativas adequadas a patógenos específicos. De acordo com as linfocinas que produzem após estimulação antigênica, estas células podem ser separadas em duas subpopulações:T “helper 1” (Th 1) e T “helper” 2 (Th 2). As células Th 1 produzem IFN-γ e são associadas à proteção contra os patógenos intracelulares, como as leishmânias, enquanto que as células Th 2 produzem interleucina (IL)-4, IL-5 e IL-10 e estão envolvidas nos processos alérgicos e na proteção contra agentes extracelulares. No caso das infecções por microrganismos intracelulares, a ativação das células Th 2 leva ao agravamento. Os inúmeros estudos realizados no modelo experimental da leishmaniose murina causada por L. major, espécie causadora de leishmaniose cutânea no Velho Mundo e que não ocorre no Brasil, foram fundamentais para o estabelecimento do chamado “paradigma Th 1/Th 2”, que tem servido como base para a compreensão da relação parasito-hospedeiro em diversas doenças infecciosas e parasitárias. Neste modelo foram defi nidos papéis protetores e nocivos para diversas citocinas. Alguns destes conceitos, mas não todos, foram confi rmados em estudos das leishmanioses humanas. O que já está bem estabelecido é que, para o controle da infecção, é necessária a predominância da resposta imune celular com características de tipo 1, envolvendo linfócitos CD4 e CD8 e citocinas como IL-12, IFN-γ, fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α), linfotoxina e algumas quimiocinas produzidas por macrófagos. Esta resposta tem como resultado a ativação  de macrófagos, tornando-os capazes de eliminar o parasito, controlando a infecção. Dentro desta perspectiva, a diminuição do número de parasitos, leva a uma redução do estímulo da resposta imune pelo menor aporte de antígenos. Com isto, a cicatrização se inicia através do controle do processo inflamatório
(morte de células efetoras não estimuladas), aumento da função de fibroblastos, com produção de fibrose e tecido de cicatrização. Mesmo com a diversidade de espécies de Leishmania envolvidas na LTA, a manifestação clínica da doença depende não apenas da espécie envolvida, mas também do estado imunológico do indivíduo infectado. Um espectro de formas clínicas pode se desenvolver na dependência das características da resposta imune mediada por células. No meio do espectro, a leishmaniose cutânea (LC) representa a manifestação clínica mais freqüente. Nela, as lesões são exclusivamente cutâneas e tendem à cicatrização. Mais freqüentemente, são únicas ou em pequeno número. Em casos mais raros, as lesões podem ser numerosas, caracterizando a forma denominada leishmaniose cutânea disseminada. As  lesões apresentam aspectos variados e a infecção secundária bacteriana altera este aspecto tornando-as mais inflamadas, dolorosas e purulentas. Alguns indivíduos curam precocemente a lesão, às vezes sem procurar atendimento médico. Outros permanecem meses com a lesão em atividade e o processo de cicatrização mostra-se lento. Este fenômeno pode ser explicado pelo estabelecimento rápido ou tardio de uma resposta imune específica eficiente na eliminação do parasito. O processo de cura das lesões de LTA é hoje objeto de estudo de vários grupos de pesquisa. Na LC, a imunidade celular está preservada, o que pode ser verifi cado pela positividade ao teste cutâneo com leishmanina, Intradermorreação de Montenegro (IDRM) e de outros testes in vitro, tais como a proliferação celular e a produção de IFN-γ em culturas de células mononucleares de sangue periférico estimuladas com antígenos de Leishmania. Esta resposta celular específi ca bem modulada, mas com predominância de citocinas do tipo 1, se refl ete em tendência à cura espontânea e boa resposta ao tratamento, que se observa inclusive na leishmaniose cutânea disseminada. A LC é uma doença benigna e, na maioria dos casos, resolve-se após alguns meses, mesmo sem tratamento. Considera-se que algumas pessoas possam se infectar sem desenvolver doença, pois em áreas endêmicas podem ser encontrados indivíduos positivos ao teste de Montenegro, mas sem história de LTA e sem cicatrizes compatíveis. A LC pode ser causada por todas as espécies dermotrópicas de Leishmania, mas algumas características particulares têm sido atribuídas às diferentes espécies. Assim, as lesões causadas por L. (L.) amazonensis têm bordas mais infiltradas. Histologicamente, estas lesões se caracterizam por um denso infiltrado dérmico de macrófagos vacuolados contendo abundantes parasitos. Nas lesões causadas por espécies do subgênero Viannia, o infiltrado é mais discreto, com predominância de linfócitos e plasmócitos e escassez de macrófagos e parasitos. A partir da forma cutânea, quando a infecção não é controlada pelos mecanismos adaptativos da resposta imune celular, a doença pode evoluir para um dos dois extremos de maior gravidade do espectro: o pólo anérgico multiparasitário ou o pólo hiperérgico-pauciparasitário. Na LC, sabe-se que a incapacidade de montar uma resposta imune celular eficaz está
associada à evolução clínica e resposta terapêutica menos favoráveis. Em pacientes com a síndrome de imunodeficiência adquirida (aids), a LC pode apresentar quadros clínicos atípicos, tendência à dis   seminação e má resposta aos esquemas quimioterápicos usuais. Em pacientes sem causas conhecidas de imunodeficiên cia a LC, pode evoluir para uma ausência de resposta celular específica (anergia)para antígenos de Leishmania, que caracteriza a rara leishmaniose cutânea difusa (LCD), o pólo anérgico-multiparasitário do espectro, no qual a anergia celular está associada à acentuada proliferação dos parasitos e à disseminação da infecção. No Brasil, está associada exclusivamente à infecção causada por L. (L.) amazonensis. Há evidências de que L. amazonensis tem uma capacidade particular de interferir negativamente em vários mecanismos imunológicos necessários para a geração de uma resposta imune efetiva. A maioria dos casos de LCD, origina-se de infecção adquirida na infância, o que sugere um papel para a imaturidade do sistema imune no desenvolvimento desta forma clínica. Na ausência de uma resposta imune celular efetiva contra o parasito, este se multiplica sem controle, aumentando o número de lesões e expandindo sua distribuição na superfície corporal. O teste cutâneo de Montenegro é caracteristicamente negativo, assim como os testes de proliferação celular e produção de IFN-γ em culturas de células mononucleares de sangue periférico estimuladas com antígenos de Leishmania. Apesar da ausência de respostas celulares específicas, os níveis de anticorpos anti-Leishmania circulantes são altos. Ocorre uma predominância da resposta do tipo secretório (produção de anticorpos), em detrimento da resposta celular. O perfil de citocinas da resposta imune nestes casos é predominantemente do tipo 2, com baixa produção de IFN-γ e níveis altos de IL-10. Macrófagos não ativados não entram em estado parasiticida e não eliminam a infecção. A resposta ao tratamento é ruim e isto provavelmente se deve à imunodeficiência específi ca. O parasito passa a ser encontrado em grande quantidade nas lesões e o processo inflamatório mostra-se desorganizado, não sendo capaz de controlar a infecção. Embora os pacientes apresentem redução signifi cativa das lesões durante a quimioterapia, as recidivas são praticamente inevitáveis. A LCD não deve ser confundida com a LC disseminada, pois esta ocorre em indivíduos capazes de montar uma resposta imune celular contra Leishmania e apresenta boa resposta terapêutica. O pólo oposto, hiperérgico-pauciparasitário, é representado pela leishmaniose mucosa (LM), que tem como agente etiológico principal a L. (V.) braziliensis, e se caracteriza imunologicamente pelo exagero das respostas celulares anti-Leishmania e pela escassez de parasitos. Do ponto de vista imunológico, a IDRM é fortemente positiva, com áreas de enduração cutânea significativamente superiores às observadas na LC, ocasionalmente com flictenas e/ou necrose. A resposta proliferativa e a produção de IFN-γ e TNF-α estimuladas por antígenos de Leishmania em culturas de células mononucleares de sangue periférico também são significativamente maiores do que as observadas na LC. Esta resposta exacerbada do tipo 1 promove então destruição de tecido onde houver depósito de partículas antigênicas. Isto é o que ocorre na chamada forma mucosa clássica. No entanto, vale ressaltar que, em alguns casos, o surgimento de lesões mucosas não se acompanha de exacerbação da resposta do tipo 1, como, por exemplo, em pacientes imunocomprometidos. Na LM, este exagero na produção das citocinas do tipo 1 associa-se a uma produção relativamente baixa de IL-10, uma citocina capaz de modular a resposta e inibir a ativação de macrófagos. Verifi cou-se que as células de pacientes com LM apresentam baixa capacidade de resposta a citocinas inibidoras da secreção de IFN-γ. Foi sugerido então que a incapacidade de promover uma modulação adequada da resposta do tipo 1 nos casos de LM possa estar envolvida na patogênese desta grave manifestação clínica. A resposta terapêutica da LM não é boa. Ainda que as lesões regridam ou mesmo desapareçam com os tratamentos convencionais, as recidivas são freqüentes. Embora a resposta imune que se desenvolve na LM não seja capaz de controlar a doença e muito provavelmente seja responsável pelas manifestações clínicas, ela é capaz de conter a multiplicação parasitária, e os parasitos são escassos nas lesões mucosas. A patogênese da LM continua sendo um mistério, embora alguns estudos tenham associado um risco aumentado a determinadas características genéticas. Quanto mais intensa a resposta de tipo 1, maior a efi ciência na eliminação do parasito. Quanto mais presente a resposta de tipo 2, ao contrário, maior será a sobrevivência doprotozoário. Esta dinâmica pode explicar porque o isolamento de parasitos é mais difícil em lesões antigas, já com substituição de tecido por fi brose (mesmo que ainda não vista na macroscopia) e em lesões com alto grau de destruição como nas formas mucosas. Nas lesões mais recentes, o parasito é mais facilmente isolado provavelmente devido a uma taxa de multiplicação maior que a de destruição. Por outro lado, nas formas da doença em que ocorre um predomínio da resposta do tipo 2 (LCD), o isolamento é mais facilmente obtido, devido ao intenso parasitismo. Vale a pena ressaltar, no entanto, o fato da efi ciência de isolamento ser tam bém infl uenciada pelas condições de coleta e manipulação do material e das condições de cultivo.A cura da leishmaniose não é estéril, tem sido possível isolar parasitos viáveis de cicatrizes de LTA em indivíduos cura dos há vários anos, fato este comprovado em estudos experimentais usando modelo animal. Este fenômeno poderia assim explicar o aparecimento de recidivas tardias como também o surgimento da doença em paci entes imunocomprometidos, como no caso da aids. A perda da eficiên cia da resposta imune levaria a uma quebra do equilíbrio entre parasito e hospedeiro, facilitando a multiplicação do protozoário e produzindo as lesões. É provável que a manutenção da resposta imune celular específica por longos períodos após a cura se deva à permanência destes parasitos latentes, no organismo do hospedeiro, um fenômeno referido como imunidade concomitante. Com base no exposto, podemos concluir que, para a cura do paciente, seja de for ma espontânea,seja após tratamento específi co, é necessário que a infecção tenha estimulado o sistema imune a estabelecer uma resposta celular de tipo 1 equilibrada. Na prática clínica, a ferramenta rotineiramen te utilizada para a avaliação da imunidade celular anti-Leishmania é a IDRM. Apesar da sua grande impor tância diagnóstica, deve ser lembrado que sua positividade não signifi ca doença em atividade. Signifi ca apenas que o indivíduo já se expôs a antígenos do parasito. Geralmente, esta exposição deve-se à infecção por Leishmania, porém sabe-se que repetidas aplicações do próprio IDRM também podem induzir uma imunossensibilização capaz de conferir positividade ao teste. A resposta imune celular que se desenvolve com a infecção é duradoura. Assim, o teste permanece positivo, vários anos após a cura clínica. O teste de Montenegro é positivo na grande maioria dos pacienes com LTA. Entretanto, em estágios iniciais da LC, é possível encontrar-se negativo, tornando-se positivo com a evolução da doença. É importante frisar o risco do estabelecimento de diagnóstico baseado apenas na IDRM positiva. Uma reação positiva não pode ser considerada como elemento sufi ciente para o diagnóstico em indivíduos moradores de área endêmica, já que pode não signifi car leishmaniose em atividade ou representar hipersensibilidade ao conservante, em especial, o thimerosal (merthiolate). A localização intracelular das formas amastigotas no hospedeiro mamífero determina que anticorpos sejam inefi cazes para o controle da infecção. Além de não terem infl uência no destino da infecção, os níveis de anticorpos circulantes são diretamente proporcionais à gravidade da doença e à atividade da infecção. Os títulos de anticorpos específicos são mais altos nas formas graves, multiparasitárias, como a LCD e a leishmaniose visceral. Embora os níveis de anticorpos específi cos na LM sejam mais baixos do que os encontrados na LCD, eles são superiores aos observados na LC. Os níveis de anticorpos tendem a ser baixos ou indetectáveis na LC não complicada. Considerando-se exclusivamente esta forma clínica, os níveis de anticorpos anti-Leishmania são mais altos nos casos com lesões múltiplas que nos com lesão única. Após a cura clínica, os títulos dos testes sorológicos tendem a cair rapidamente (em poucos meses).
Texto retirados diretamente de nosso Manual de Vigilância de Leishmaniose Tegumentar Americana do MINISTÉRIO DA SAUDE das p´gs. 36 a 41